Enlatados são parte do cotidiano, assim como vários outros produtos de uso diário. Mas já nos questionamos como as latas surgiram, como são feitas e como é o enlatamento?
Ao longo da história da humanidade, a conservação de alimentos sempre foi essencial para sobrevivência. Alimentos frescos ou crus são perecíveis, ou seja, ficam impróprios para o consumo depois de curtos períodos de tempo devido à multiplicação de microorganismos como bactérias, fungos ou vírus e ainda devido à atividade enzimática. Muitos desses microorganismos são perigosos, pois contaminam os alimentos provocando doenças. O homem passou a buscar formas de conservação de alimentos para que ficassem bons para o consumo mesmo após longos períodos. Métodos tradicionais como secagem pelo sol, salga e congelamento foram utilizados.
Ao final do século XVIII, o imperador francês Napoleão Bonaparte ofereceu recompensa para qualquer um que apresentasse uma nova forma de preservação de alimentos. Os métodos tradicionais, até então utilizados, não eram suficientes e não agüentavam o tempo necessário para acompanhar o exército em suas batalhas. A recompensa foi paga a Nicolas Appert o qual descobriu que a aplicação do calor em frascos de vidro e tampados hermeticamente com rolhas de cortiça levavam os alimentos a prazos de validade até então desconhecidos.
Em 1809, Nicolas publicou um livro sobre o tema e foi premiado.
Uma cópia de seu livro foi parar nas mãos de Peter Durant, que deu entrada com o pedido de patente em 1810: “primeiramente acondicionamos os alimentos em garrafas ou outros vasilhames de vidro, potes ou recipientes de estanho, ou outros materiais adequados”. Esta foi a primeira sugestão de que recipientes revestidos de estanho, a futura lata, poderiam ser usados na conservação de alimentos. Durant vendeu sua patente em 1811 à firma londrina Donkin, Hall and Gamble, que achavam o vidro muito frágil e a cortiça muito porosa. Começaram então a usar recipientes de chapas de ferro estanhadas – na realidade as primeiras latas a serem produzidas.
A comida enlatada foi um sucesso entre os marinheiros. As primeiras latas de comida só chegaram às lojas em 1830. Incluíam tomates, ervilhas e sardinhas, mas suas vendas eram lentas, principalmente pelo preço ainda elevado e pela dificuldade de abertura da lata – usava-se martelo e talhadeira. O alto preço das latas era atribuído à baixa demanda de mercado e ao método artesanal de fabricação e envasamento.
O desenvolvimento da estrutura da lata começou em 1824, pelo inglês Joseph Rhodes, que utilizou um método prático de colocação da tampa e fundo – a recravação – que só muitos anos depois foi largamente utilizado. A maioria do mercado ainda era destinada à companhia de navegação e logo, caravanas e trens passaram a estocar as latas para longas viagens – a comida enlatada tornou-se, então, parte dos hábitos alimentares. A guerra civil americana foi outro fator importante para a expansão da comida enlatada, pois o governo direcionava toda a comida disponível para seus exércitos nos campos de batalha. O aumento da demanda levou, naturalmente, ao aperfeiçoamento dos processos de fabricação das latas e do enlatamento. O primeiro grande passo foi dado em 1847 com a invenção da máquina para impressão gráfica para o corpo das latas, sendo seguida pela invenção das máquinas de lavar latas e pelos sistemas de transporte entre vários estágios das linhas de processo.
Em 1896, Max Mas e Julius Brezinger se conscientizaram de que o negócio de produção de latas dependeria do desenvolvimento de métodos mais modernos e rápidos. Após um ano patentearam um processo para produção de 20.000 latas/dia, dispensando a necessidade de soldagem das tampas e fundos das latas, além de aumentar a resistência, abrindo o caminho para o desenvolvimento de linhas de altas velocidades.
Em 1874, AK Scriver inventou a autoclave, que reduziu consideravelmente o tempo de cozimento dos alimentos. Em 1892, surgiu o primeiro abacaxi em lata no Havaí. Entre 1870-1900 o número de enlatadores saltou de menos de 10 para 1800. Em 1930, as latas começaram a se tornar populares. Em 1935, aconteceu o lançamento das primeiras cervejas em lata. Hoje, são milhares os números de latas produzidas e consumidas por dia em todo o planeta.
A pesquisa e desenvolvimento em torno das latas é realizada constantemente. Atualmente temos latas de diferentes shapes e tamanhos, aplicações para diversos segmentos desde bebidas, alimentos até produtos químicos perigosos, sistemas de abertura super modernos, litografias de alto impacto e muito mais. Hoje, já é realidade a lata para microondas até então vista como futuro distante.
As latas já têm quase 200 anos e continuam cada dia mais atuais. Devido à sua praticidade, segurança e baixo custo, estão presentes no dia-a-dia de toda a população. A cada dia que passa, os processos de produção envolvidos nesta indústria estão sendo aprimorados para oferecer ao consumidor final sempre as melhores opções.
Fonte: http://www.abeaco.org.br